Visitada por milhares de pessoas, a exposição ‘Mekukrad Já Obikàrà: Com os pés em dois mundos’ apresenta a visão de jovens indígenas sobre as transformações de sua cultura
Já visitada por milhares de pessoas, entre as quais o cacique Raoni Metuktire, maior liderança indígena do Brasil, a exposição “Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos” chega aos seus últimos dias de visitação antes do encerramento no dia 26 de novembro.
Em cartaz no mezanino do Museu de Arte Contemporânea – MAC Niterói desde o dia 28 de outubro, a mostra apresenta lindas fotos e vídeos reveladores sobre a forma como o povo Mebêngôkre-Kayapó vem absorvendo em sua cultura elementos de outras tradições. “Mekukradjá Obikàrà”, o conceito que nomeia a exposição, pode ser traduzido para o português como “cultura impura”. Trata-se de um olhar natural para o futuro que parte do respeito e da valorização da herança recebida dos antepassados, promovendo reflexão sobre os processos de transformação das culturas e desconstruindo estereótipos sobre os povos indígenas.
A relação com a tecnologia, por exemplo, fica evidente na reprodução de uma oca com uma TV instalada em sua parede e em registros dos primeiros contatos destes indígenas com câmeras, na década de 1980. Em outro ambiente, é possível ver peças de artesanato que trazem logomarcas de multinacionais feitas em miçanga.
A exposição também permite conhecer aspectos da tradição Kayapó. As formas arredondadas do museu transportam o público para as aldeias deste povo, construídas em círculo. Logo na entrada, uma grande tela com grafismos tradicionais Kayapó recebe os visitantes. Ela foi pintada por 15 mulheres deste povo durante o Acampamento Terra Livre (ATL), em abril de 2023. É possível conferir ainda um vídeo e uma instalação sobre o mito que narra a origem dos Mebêngôkre-Kayapó.
Boa parte das obras foi produzida pelos jovens cineastas Kayapó do Coletivo Audiovisual Beture, responsável pela curadoria da mostra, que traz ainda experiências imersivas e imagens de arquivo. Para montá-la, eles realizaram uma cuidadosa pesquisa e captaram imagens e vídeos em diversos pontos do território Kayapó, formado por seis terras indígenas no sul do Pará e no norte de Mato Grosso.
A exposição “Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos” é realizada pelo Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). A Conservação Internacional Brasil e as organizações representativas parceiras do projeto, os institutos Kabu e Raoni e a Associação Floresta Protegida apoiam a iniciativa.
O Coletivo Beture
O Coletivo Beture é um movimento dos Mekarõ opodjwyj – cineastas e comunicadores indígenas Mẽbêngôkre-Kayapó. A denominação vem de uma formiga, encontrada no território Kayapó, que tem como característica uma mordida bastante potente, a cabeça vermelha e a bunda preta, mesmas cores usadas pelos indígenas desta etnia quando se pintam para a guerra.
Surgido em 2015, o Beture tem contribuído para organizar e estruturar um movimento da juventude que vem surgindo em muitas comunidades. A juventude Mẽbêngôkre-Kayapó deseja registrar a vida e a cultura de seu povo por meio de tecnologias audiovisuais e diversas mídias. Hoje o coletivo desempenha um papel fundamental na conquista de reconhecimento cultural assim como na visibilidade das estruturas políticas. Desde então, formações audiovisuais têm sido realizadas com o objetivo de potencializar as produções do coletivo e ofertar aos cineastas mais conhecimento sobre as técnicas de captação de imagens, de roteirização e edição.
O trabalho dos Mekarõ opodjwyj também tem o objetivo duplo de construir um caminho profissionalizante para garantir uma fonte alternativa de renda para o povo Mẽbêngôkre-Kayapó, assim como gerar a possibilidade de jovens lideranças de participar em mobilizações políticas e trocas de conhecimento com outros povos. O audiovisual passou então a ser um instrumento dos mais potentes para o fortalecimento cultural: os Mẽbêngôkre-Kayapó deixam de ser apenas objeto de estudo para fazer seus próprios registros sobre a vida, atividades cerimoniais e cotidianas.
O Beture tem uma produção de cerca de 30 filmes por ano, que geralmente tratam sobre: metoro – festas de nominação, eventos políticos, e alguns filmes de ficção que representam narrativas oriundas da mitologia Mẽbêngôkre-Kayapó, geralmente transmitida oralmente pelos velhos. Os filmes circulam bastante nas comunidades e são muito bem recebidos nas aldeias Mẽbêngôkre-Kayapó. Esses filmes também circulam amplamente atingindo outros públicos a nível regional, nacional e internacional.
Sobre o Tradição e Futuro na Amazônia (TFA)
Patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e gerido pelo FUNBIO, o TFA realiza desde 2020 ações para apoiar as comunidades Kayapó no Pará e no Mato Grosso em parceria com a Conservação Internacional Brasil e com três organizações representativas deste povo: os institutos Kabu e Raoni, e a Associação Floresta Protegida. Com atividades que incluem educação ambiental, agricultura sustentável, registro e transmissão de tradições e apoio à geração de renda e à gestão do território, o projeto beneficia mais de 9 mil indígenas de 57 aldeias. Entre as iniciativas está a construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da Terra Indígena (TI) Menkragnoti, no Pará, documento que orienta a administração de uma determinada TI, observando a autonomia dos povos, o princípio da sustentabilidade e outras diretrizes da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).
Sobre o FUNBIO
O FUNBIO é uma organização da sociedade civil privada, sem fins lucrativos, criada em 1996 com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e por iniciativa do governo federal para apoiar a implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica. Tem extensa experiência na gestão de projetos e de ativos financeiros oriundos da cooperação internacional, de doações do setor privado e de obrigações legais do setor empresarial brasileiro. O FUNBIO não trabalha com recursos do orçamento público brasileiro. Em 2015, foi acreditado como agência implementadora nacional do GEF e, em 2018, como agência do Fundo Verde do Clima (GCF). Desde 2018, adota as políticas de salvaguardas sociais e ambientais da Corporação Financeira Internacional, IFC. Desde o início das atividades, em 1996, o FUNBIO já apoiou mais de 400 projetos que beneficiaram número superior a 300 instituições em todo o país.
Sobre o Programa Petrobras Socioambiental
O Programa Petrobras Socioambiental reúne projetos nos quais a Petrobras investe de forma voluntária e representa um dos seus compromissos de sustentabilidade. O Programa inclui ações de conservação de ambientes e espécies, manutenção e recuperação de biomas, fixação de carbono e emissões evitadas, gestão de recursos hídricos, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, educação para o trabalho, educação ambiental, esporte educacional, entre outras. O projeto Tradição e Futuro da Amazônia faz parte do grupo de projetos que atuam na linha de Florestas. As iniciativas desse grupo contemplam ações voltadas para a conservação e recuperação de florestas e áreas naturais, proteção da biodiversidade com foco em remoção e manutenção dos estoques de carbono e adaptação à mudança climática, gerando benefícios ambientais e sociais, além de estimular a educação ambiental.
Serviço:
Exposição “Mekukradjá Obikàrà: com os Pés em Dois Mundos”
Temporada: de 28 de outubro a 26 de novembro
Local: Mezanino doMuseu de Arte Contemporânea – MAC Niterói
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/nº – Boa Viagem, Niterói – RJ
Horário de funcionamento: Terça a Domingo, 10h às 18h (entrada até 17h30)
Classificação Indicativa: 14 anos
Valor do ingresso: R$16,00 (inteira) e R$8,00 (meia)
Gratuidades: Crianças menores de 7 anos; estudantes da rede pública (fundamental e médio); moradores e naturais de Niterói; servidoras/es públicos municipais de Niterói; pessoas com deficiência; visitante que chegar ao museu de bicicleta. Às quartas-feiras a visitação é gratuita para todo mundo!
Meia-entrada: Pessoas com mais de 60 anos; estudantes de escolas particulares e universidades; ID Jovem: pessoas de baixa renda com idade entre 15 e 29 anos que estejam inscritas no CadÚnico; professoras/es.
Local de venda dos ingressos: Sympla e Bilheteria do MAC