MAC Niterói apresenta exposição coletiva “Outras Paisagens”

Com curadoria de Juliana Crispe e participação de 16 artistas de diferentes gerações, a exposição propõe pensar não apenas na paisagem composta por aspectos naturais, mas também nas paisagens culturais presentes na contemporaneidade.

Antonio Pulquério – Sem título. 2023 – Cerâmica esmaltada e ferro

A representação de paisagem atravessou muitos movimentos e fases da História da Arte, mas sempre se manteve consolidada e é reinventada na produção contemporânea. É desta afirmação que nasce a exposição Outras paisagens, apresentada de 6 de abril a 26 de maio. Com curadoria de Juliana Crispe, a exposição busca trazer ao público como, a partir do diálogo com outras formas de expressão e linguagens artísticas, a “paisagem” propõe um olhar atento e questionador sobre outras realidades e invenções.

O corpo da exposição é formado por obras de 16 artistas de diferentes gerações, são eles Aline Moreno, Anaís-karenin, Antonio Pulquério, Carlos Asp, Corina Ishikura, Dani Shirozono, Elias Muradi, Franzoi, Jussara Marangoni, Marcella Moraes, Marcia Gadioli, Myriam Glatt, Natália Lage, Sérgio Adriano H, Silvana Macêdo e Tuca Chicalé.

Carlos Asp, Pitangueira

Crispe explica em seu texto curatorial que “a exposição Outras Paisagens propõe pensar não apenas na paisagem composta por aspectos naturais, mas também nas paisagens culturais presentes na contemporaneidade. Em uma dimensão rizomática, esta exposição nos provoca a refletir sobre transposições de percepções do termo Paisagem no campo histórico/artístico”.

Para Victor De Wolf, Diretor Geral do MAC Niterói, “mais do que uma simples contemplação da paisagem, ‘Outras Paisagens’ desafia as fronteiras convencionais da arte e da percepção e nos convida a repensar nossa relação com o mundo e a explorar novas narrativas e horizontes, inspirando reflexões e diálogos sobre as várias paisagens que habitamos.”

As “outras paisagens”

A obra sem título #2, da série Contrapontos (2023), de Aline Moreno (1992, Campinas, SP – São Paulo), mostra como a artista lida com o conceito de paisagem enquanto tradução e interpretação da natureza pela linguagem, dialogando com a história da sua representação e, inevitavelmente, com a tradição da pintura. Sua produção, em geral, vai do pequeno objeto até pinturas próximas da escala humana, explorando materiais como a madeira, papel, pedra, gesso, colagens e pinturas.

Anaís-karenin (1993, São Paulo, SP – Tokyo) baseia sua prática artística na conexão íntima com plantas, integrando saberes tradicionais, mitologia e animismo para abordar temas como colonialismo, história, extração, território e ciência. E é o que o visitante poderá ver na obra Floresta (2020-2024).

O interesse de Antonio Pulquério (1967, Campos Sales, CE – São Paulo) nas esculturas de cerâmica vai muito além dos acúmulos dos objetos cotidianos que ele utiliza, trazendo, também, memórias ancestrais e afetivas. Já nas nas performances, prática recorrente em seu trabalho, outras camadas são exploradas e ressignificadas, partindo das relações rituais ou ritualizadas, com cruzamentos entre aspectos de religiosidades que são parte de sua construção e caras à sua pesquisa, como a matriz afro-brasileira, indígena e barroca. Em Outras Paisagens, Pulquério exibe Guardião (2023).

Carlos Asp, Sem Título

As narrativas pictóricas do artista Carlos Asp (1949, Porto Alegre, RS – Florianópolis, SC) geralmente derivam dos campos relacionais e formam suas “paisagens poéticas”. Na obra in ÚTIL paisagem (2017), ele leva ao público do MAC essa pesquisa, na qual busca em uma materialidade singela expressar poemas visuais, frases que se relacionam a imagens, rabiscos que acometem poesias.

A pesquisa de Corina Ishikura (1964, São Paulo, SP – São Paulo) parte de uma visão contemporânea de mundo onde natureza e cultura, pessoas e coisas, matéria e espírito estão integrados e, assim, reflete conceitualmente sobre a problematização dos espaços e tudo o que emerge e se desdobra dessa perspectiva complexa e relacional para além da simples coexistência com o planeta. Ela se utiliza da ciência e da tecnologia com materiais como madeira, papel, evidenciando na instalação, desenho e pintura, seu posicionamento crítico na forma como experiencia o mundo. Na exposição, ela apresenta a obra Pilares Desmedidos, feita em 2023, onde expressa esse pensamento.

Dani Shirozono (1989, Viçosa, MG – Jundiaí, SP) propõe em sua obra Aqui me protejo (2023), um olhar sobre a paisagem e as implicações em se entender como parte dela. Compreendo esse elemento como território, espaço de pertencimento e reflexão sobre a condição de habitar um entre-espaço, a artista investiga a forma por meio de experimentações materiais e cria relevos imaginários a partir de uma vivência transitória entre culturas e localidades diversas que propiciam o reconhecimento em uma identidade múltipla.

A escultura e o desenho são as ferramentas de compreensão do espaço de Elias Muradi (1963, Mogi-Mirim, SP – São Paulo). Em suas duas obras da série Para alcançar (2018-2020), a dimensão doméstica é matéria relacional e inspiradora para comentar a memória, vestígio ou ação do corpo.

Dani Shirozono. Aqui me protejo. Foto: Daniel Gallo

Franzoi (1969, Taió, SC – Joinville SC) questiona em seu trabalho as fronteiras que delimitam o espaço-tempo na paisagem corpórea, onde o ser humano está atrelado a conceitos preestabelecidos no corpo e na alma. Com a performance, o artista desenvolve obras que dialogam e buscam despertar reflexões sobre a memória e o patrimônio, com articulações do corpo e do olhar dentro da sociedade, a partir da relação entre “corpoimagem”, “corpoobjeto” e “corpoespaço”. Essa pesquisa pode ser vista nas três obras da série almacorpomarterra, que integram a exposição.

O processo criativo de Jussara Marangoni (1961, São Paulo, SP – Araçatuba, SP) encontra inspiração nas formas vegetais, simbolizando conexão, expansão e força. Para a artista, assim como as raízes de uma árvore se entrelaçam no solo, a vida humana é marcada por interconexões, experiências compartilhadas e memórias arraigadas. Na obra Entre terra e céu 10 (2023-2024), ela retrata essas raízes com carvão sobre papel, e procura transmitir, além da aparência física, a energia vital que flui, transformando cada traço em uma narrativa que convida à exploração das camadas mais profundas de nossa trajetória.

Marcella Moraes (1991, Rio de Janeiro, RJ) trabalha principalmente com colagens, aquarelas, esculturas, fotografias, instalações e vídeos, nas quais realiza pesquisas geográficas, climáticas e ambientais. Interessa à artista uma arte que propõe novas formas de relação com o meio ambiente e os seres vivos, e a investigação da contínua mutação da paisagem e seus fenômenos naturais e artificiais, em busca de estados poéticos que funcionam como instrumento de sensibilização. Essa pesquisa é expressa nas obras I, II e III da série Mapas Ambientais, realizadas a partir de 2022, que compõem a exposição.

Corina Ishikura, Pilares desmedidos

Nas duas obras da série Lugares, ambas produzidas a partir de impressão digital em tecido Chifon, Marcia Gadioli (1965 – São Paulo, SP) traz a memória e a urbanidade, e os efeitos que o tempo tem sobre cada uma. São trabalhos em que a artista traz as camadas do tempo que se sobrepõem no ambiente urbano e emulam características da memória como a fugacidade, pela leveza do suporte, e o esquecimento, pela baixa definição das imagens.

Myriam Glatt (1961, Rio de Janeiro, RJ) faz uso de suportes como papelão ou embalagens por conta do caráter residual e amplamente acessível desses materiais. Interessa à artista a reflexão da passagem do plano ao espaço, procedimento favorecido pela estrutura que esses materiais costumam apresentar. Dando continuidade às investigações próprias da pintura e com o gesto de impregnação de campos de cor, ela cria uma dinâmica entre a superfície do suporte e sua espacialização. É o que o visitante poderá ver na obra OBJETO ARTICULÁVEL 3 (2024), presente na exposição.

Natália Lage (1978, Niterói, RJ) busca em seu trabalho um certo apelo sensorial, concentrado na emoção que se deflagra nessa gestualidade errática, livre, suja e incógnita. E também na relação entre as cores na composição, como se arranjam entre si, como ditam intensidades formando signos e sinais de maior ou menor densidade. Seu intuito nas obras Domingo no Quintal (2020) e O Futuro também é gerado (2021), é traçar novos mapas, novas paisagens, outros labirintos, algumas plantas-baixas; vestígios de imagens. Uma confissão intimista que esconde traços de seus próprios passos pelo mundo.

É através de objetos, fotografias e vídeos, que Sérgio Adriano (1975, Joinville, SC) aborda questões existenciais pensadas no contexto do sistema simbólico chamada de “verdade apresentada”, “verdade fabricada” ou “fake news”. Sua produção reflete uma abordagem crítica e social, destacada por meio de performances, instalações e objetos criados para provocar novas formas de pensar. Na obra série CORpo – MANIFESTO no “Topo do Mundo” II (2023), o artista traz a proposta de pensar nas histórias ausentes, nas palavras não ditas e nas “palavras tomadas”, dando voz ao silenciado e explorando as fronteiras entre a história social ocultada e a apresentada.

Nas duas pinturas da série Risco (2022), a artista Silvana Macêdo (1966, Goiânia, GO – Florianópolis, SC) reflete sobre a crise ambiental brasileira com ramificações globais. A artista explica que os trabalhos provocam um olhar atento e crítico diante da destruição dos territórios brasileiros, do desmatamento, da invasão e exploração das terras indígenas, das violências e mortes de lideranças que se erguem em defesa da vida. Os trabalhos de Macêdo apresentados em Outras paisagens busca lembrar ao visitante que nossas vidas estão em risco, propondo um questionamento profundo acerca de normas e premissas sociais dominantes, clamando por vias de articulações políticas e de práticas cotidianas, que não mais nos coloquem em perigo, mas que possam fomentar maneiras sustentáveis de viver.

O interesse de Tuca Chicalé (1965, São Paulo SP) está nas conexões humanas, ora em equilíbrio instável, ora em desequilíbrio estável. Nas obras MIR, da série ponto Nemo (2023), Pacífico , da série ponto Nemo (2023) e Volume três, da série, das histórias que li, nos livros que eu não escrevi (2022), a artista expressa que, a partir da pesquisa sobre o Ponto Nemo, um lugar remoto no oceano, conhecido por ser um cemitério espacial e por apresentar intensa poluição com partículas plásticas, essa experiência lhe trouxe novas camadas para a sua produção. Esses trabalhos, com base nessa pesquisa, refletem sobre uma busca pela conexão com o outro, seja ela metafórica, seja simbólica, a partir de espaços ocultos onde existe um fragmento de vida, algo incompleto que só se realiza quando está em contato com outro elemento.

“Pensar as paisagens possíveis perante a compreensão do mundo em que vivemos é perceber o que nelas queremos e devemos manter, mas também avistar o que precisamos e desejamos mudar. Ao contestar e reinventar através da arte, propomos deambular por novas identidades e construir outros horizontes que provoquem o sensível e os espaços de lutas em uma constelação movente, em constante devir, na invenção destas outras paisagens”, reflete a curadora Juliana Crispe.

Sobre o projeto

A exposição nasceu a partir de trocas e conversas de Rodrigo Pedrosa e Cesar Coelho, artistas de Niterói, com a artista Corina Ishikura, de São Paulo, e foi ganhando corpo ao se aprofundar em questões globais e atuais relativas à humanidade e sua existência, em diferentes aspectos. O convite foi estendido aos demais artistas componentes do grupo e um deles, Sérgio Adriano H, trouxe a curadora Juliana Crispe, que se juntou e entendeu a necessidade urgente de apresentar e expressar por meio de uma exposição coletiva a diversidade de experiências, perspectivas e desafios enfrentados como sociedade na paisagem global.

O MAC Niterói apresenta como missão a ampliação do acesso ao conhecimento, abordando além das questões ambientais, temas muito importantes como inclusão social de gênero, reconhecimento da diversidade, preservação da memória coletiva e individual. O projeto Outras Paisagens visa incentivar esse diálogo e a conscientização sobre os temas cruciais que impactam na qualidade de vida e na saúde física e mental da população. A exposição multicultural destaca artistas que têm como pesquisa temas contemporâneos, como qualidade, diversidade étnica, identidade de gênero, orientação sexual, sociocultural, memória e compromisso socioambiental, promovendo um futuro mais igualitário, sustentável e enriquecedor para todos.

Serviço

Outras Paisagens

Curadoria: Juliana Crispe

Abertura: 6 de abril, sábado, 10h

Período expositivo: 7 de abril a 26 de maio de 2024

Classificação livre

Artistas: Aline Moreno, Anaís-karenin, Antonio Pulquério, Carlos Asp, Corina Ishikura, Dani Shirozono, Elias Muradi, Franzoi, Jussara Marangoni, Marcella Moraes, Marcia Gadioli, Myriam Glatt, Natália Lage, Sérgio Adriano H, Silvana Macêdo e Tuca Chicalé Galvan.

Local: Museu de Arte Contemporânea – MAC Niterói

Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/no – Boa Viagem, Niterói

Horário de Funcionamento:

Pátio – Aberto todos os dias, das 9h às 18h.

Galerias – De terça a domingo, das 10h às 18h. Atenção: a rampa de acesso às galerias é fechada às 17h30.

Ingressos:

Inteiro: R$16,00 (dezesseis reais)

Meia-entrada: R$8,00 (oito reais) – é exigida a comprovação do direito ao benefício na bilheteria do museu. Têm direito à meia-entrada idosos a partir de 60 anos, jovens de baixa renda com idade entre 15 e 29 anos inscritos no

CadÚnico, estudantes de escolas particulares, universitários e professores

Os ingressos são válidos durante o horário de funcionamento do dia da compra e podem ser adquiridos online no site bit.ly/ingressoMACniteroi

Gratuidades:

Estudantes da rede pública (ensino fundamental e médio), crianças de até 7 anos, pessoas com deficiência, servidores públicos municipais de Niterói, pessoas moradoras ou nascidas em Niterói (com apresentação do comprovante de residência) e visitantes de bicicleta. Na quarta-feira, a entrada é gratuita para todas/os/es.

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